quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Rock Progressivo Vs. Punk Rock: Todo Mundo Grita e Ninguém tem razão!

Uma das mais das mais ferozes batalhas entre o bem e o mal aconteceu a partir da segunda metade da década de setenta e se estendeu por boa parte da década de oitenta. Alguns até afirmam que ela ainda não acabou. Estou falando da épica luta entre o exército high-tech, (muito bem equipado) do rock progressivo contra os andrajosos guerrilheiros do punk rock.
Num dos muitos movimentos de renovação do rock, no final da década de 60 começaram a surgir bandas que bebiam em fontes tão díspares como o jazz e a música clássica. Esses músicos, que, em geral, tinham uma boa formação musical e talento de sobra, buscavam dar ao rock algo mais, num caminho que havia sido apontado por Beatles (sempre eles!) e outros grupos. Eles combinavam elementos da música clássica e/ou oriental com o rock, como no seminal Sargent Peppers, por exemplo. Mas, em suas origens, ainda na década de 60, pode-se encontrar também o dedo de Frank Zappa, The Who, Cream e, é claro, Pink Floyd. Até Jeff Beck e Jimmy Page namoraram com o gênero: Beck´s Bolero, de 66, por exemplo, é uma recriação do Bolero de Ravel.
Uma das características do gênero progressivo são os álbuns conceituais. A partir de um tema, uma história, um livro ou simplesmente, uma idéia, discos inteiros eram desenvolvidos, de maneira progressiva, faixa a faixa. Entendeu o porquê do nome progressive rock, mané?
Mas, apesar do glamour, da técnica e das superproduções, o rock progressivo ia na contramão comercial. Era difícil separar uma ou outra faixa do “todo” pra tocar nas rádios. Sem mencionar o fato de que algumas composições chegavam a durar 20 minutos. Ou, como o fundamental “Tick as a Brick”, do Jethro Tull: uma composição só, no álbum inteiro.
E isso se justificava: o movimento(?) surgiu em reação à leveza, a “alegriazinha” flower power do movimento hippie. Por isso, esforço extra na densidade, nos temas épicos e na grandiloqüência. Nada era por acaso. Tudo era milimetricamente estudado para obter maior impacto.
Mas, afinal, quais foram as bandas fundamentais deste estilo? Afora as já citadas, tivemos por exemplo, Genesis, Yes, Emmerson, Lake & Palmer, Rick Wakeman (ex-Yes), Focus, Queen, Uriah Heep e Supertramp, entre outras. No Brasil, o Terço foi a maior referência no gênero.
Munidos de uma invejável parafernália, montavam shows épicos, que enchiam olhos, ouvidos e mentes dos fãs. Rick Wakemann, por exemplo, foi o responsável pela montagem do primeiro grande espetáculo musical pop que Porto Alegre viu. Cercado por várias camadas de impressionantes teclados, acompanhado de orquestra sinfônica, coral e cenários deslumbrantes, com direito a coreografias de dançarinos em patins, o “mago” Wakeman apresentou “Viagem ao Centro da Terra”, para os milhares de fãs embasbacados que foram ao Gigantinho. O show e o álbum eram, é óbvio, baseados na obra de Julio Verne. Era 1975 e os gaúchos presenciaram um momento emblemático do melhor que o rock progressivo podia fazer.
E então, pelos fundos, chegaram os Punks.
Enfurecidos e cheios de energia, eles só queriam devolver ao rock a sua espontaneidade básica. E que espontaneidade. Chegaram quebrando tudo e reduzindo a música ao mínimo indispensável. Com letras telegráficas, acordes mínimos e postura anárquica, eles eram a própria antítese do rock progressivo. Arranhando cordas, destruindo coros e vomitando letras violentas e agressivas, tomaram de assalto a cena pop. Ironicamente, apesar da postura rebelde e agressiva, eles tinham exatamente o que a indústria não conseguiu com a outra tribo: um produto mais vendável. Com músicas curtas que raramente ultrapassavam os dois ou três minutos, formações básicas e despojadas e músicos nem sempre muito exigentes, eles compunham o perfil ideal para a produção e o consumo em larga escala.
Na origem do movimento punk, em 1974, a banda Ramones foi a grande responsável pela sua popularização. E eles reuniam, em si, todos os elementos típicos das bandas punk: músicos sofríveis (Joey, que no início tocava bateria, não conseguia cantar e tocar ao mesmo tempo. O baixista Dee Dee, também tinha o mesmo problema), músicas curtas (o primeiro álbum da banda tinha 29 minutos divididos por 14 faixas) e diretas (como essa, em que o título era a letra inteira da música: I Don’t Wanna be Tamed). E, é claro, o elemento fundamental: a postura agressiva. Em poucas palavras, era preciso ser curto e grosso.
Depois deles, dezenas de outras bandas surgiram, porque finalmente, o rock estava ao alcance de todos. Afinal, nem sequer precisava saber tocar. E assim foram se sucedendo Sex Pistols, The Clash e outra menos votadas. No Brasil, alguns dos expoentes foram Aborto Elétrico, Camisa de Vênus, Garotos Podres, Ratos de Porão e Os Replicantes, entre muitas outras. E assim o Punk se apoderou da cena rock. Até surgir o Grunge, de Seattle. Mas isso já é outra história...
Em pouco tempo, o rock progressivo foi saindo de cena, dando lugar a uma nova onda de fans com outro tipo de concepção musical. Mas até hoje, as duas correntes continuam. Muito mais diluídas, já que agora não existe mais aquela bipolaridade do rock dos anos 70. Antes, era isso ou aquilo. Hoje, as correntes do rock se proliferam como as bandas de garagem de antigamente. Até mesmo estes dois movimentos se subdividiram em dezenas de subgrupos que continuam se subdividindo ad infinitum, como bactérias ensandecidas.
Mas isto é a própria essência do pop: mobilizar as massas num contínuo renascimento, se alimentando canibalisticamente dos que o precederam e, quase sempre, renegando com veemência as mesmas raízes das quais se alimentaram.

Nilson Luiz Rosa Lopes - Jornalismo/Cesnors

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